Hoje estava navegando pela net à procura de imagens de Arcimboldo quando me deparei com um texto muito interessante sobre arte e comida. No Blog Investigação nº 11 dois acadêmicos, um da filosofia e outro da psicologia, focalizam seus interesses em arte e estética. De tão interessante, transcrevo aqui esse post:
É fato que temas culinários ocuparam a tradição artística ao longo da história. No século XVI encontramos os retratos de Arcimboldo feitos com frutas e verduras:
Vertumnus, Giuseppe Arcimboldo, 1590
Mais recentemente, temos os trabalhos do fotógrafo brasileiro Vik Muniz que ficou conhecido por suas réplicas da Mona Lisa feitas com geléia e manteiga de amendoim. Também trabalhou com açúcar – no retrato das crianças filhas de cortadores de cana, chocolate – no retrato de Freud - e macarrão na sua reprodução da Medusa de Caravaggio:
Medusa Marinara - Vik Muniz - 1999
Temos também a instalação do africano naturalizado holandês Meschac Gaba, feita para a Bienal de São Paulo de 2006, chamada “Construct Sweetness, Living in Sweetness, As Sweet As Sugar”. Trata-se de uma maquete de 45m² da cidade de Recife toda feita de açúcar e com a inclusão de alguns monumentos famosos de outras partes do mundo. O trabalho versa sobre a geração de riqueza a partir da produção do açúcar e sobre o surgimento da cidade de Recife, temas que também remetem às origens africanas e holandesas do artista.
Construct Sweetness, Living in Sweetness, As Sweet As Sugar, Meschac Gaba, 2006
Pirulito de Alcachofra, Ferran Adrià, 2001
Essa conexão que sugere Adrià se dá no âmbito da gastronomia – no estudo das relações entre comida e cultura -, ou na culinária – na ‘arte’ da boa mesa? O primeiro estudo sistemático de gastronomia é recente, do século XIX, a Physiologie du goût (Fisiologia do Gosto) do francês Jean Anthelme Brillat-Savarin, é dele a frase: “Diga o que comes que te direi quem és!” A preocupação do autor o distancia dos milenares livros de receita – fragmentos de receitas já foram encontrados em cerâmicas de 4 mil anos na Mesopotâmia – para a relação entre as sensações e a comida. Mas não parece ser exclusivamente uma coisa ou outra que componha o trabalho de Adrià.
Muitas vezes visto como parte do movimento da culinária molecular – preocupada com os aspectos físicos e químicos dos alimentos e invenção de novos processos de cozimento – Adrià se define como desconstrutivista. Para entendermos o seu trabalho, vamos tomar um de seus pratos como exemplo. Vejamos o que Adrià faz de uma simples tortilla española. Primeiro, ele reduz a tradicional tortilla em seus três componentes básicos: ovos, batatas e cebola. Depois cozinha cada um separadamente. O produto final é composto de uma parte de espuma de batata, uma parte de purê de cebola e finalmente os ovos em forma de zabaione. O prato, que é minúsculo, é servido em uma taça de vinho em forma de coquetel. Com fina ironia, presente em todo seu trabalho, Adrià nomeia o prato de…tortilla española.
Tortilla Española, Ferran Adrià, 1998
Sob o pretexto de que, assim como a música, “a cozinha não é uma disciplina museável” a sua participação na mostra se deu de forma original. Durante os cem dias da documenta, houve uma mesa reservada para duas pessoas – artistas, críticos de arte, aficionados da arte – que a mostra enviou diariamente ao El Bulli, restaurante do chef. Segundo Adrià a cozinha “é uma atividade multissensorial, comunicativa, que não se pode fazer para mais de 30, 40 ou 50 pessoas”, complementa: “No mundo da arte, a cozinha está representada pela necessidade de contextualização e ela só pode ser feita em seu próprio lugar.” E para aqueles que não foram escolhidos durante a mostra, a média de espera no restaurante é de um ano, o que segundo o chef também faz parte da ‘experiência’. Além disso, apesar das receitas estarem publicadas, as técnicas que Adrià utiliza são praticamente impossíveis de serem reproduzidas. Elas vão desde a utilização de materiais de difícil acesso como nitrogênio liquido – no seu Pirulio de Alcachofra, por exemplo - até técnicas originais como a transformação dos alimentos em espuma.
Quando interrogado sobre o estatuto de arte do seu trabalho Adrià é categórico: “Cada um decidirá, afinal, através de sua experiência, se a cozinha é arte ou não.” De fato as questões na sua cozinha parecem de duas ordens: da experiência sensorial e da individualidade. Me pergunto, alguém irá a um restaurante refletir sobre a vida e a morte, as grandes causas, além do simples fato ter uma experiência estética, quando muito bela, de preferência saborosa? O fato de sua cozinha fazer sentido dentro de um movimento (descontrutivismo) confere ao trabalho de Adrià o estatuto de arte? Ou seria tudo uma questão de (bom) gosto?
Para mim a arte está no questionamento. No que ela faz você pensar ou sentir. A arte contemporânea não é arte por si só. Ela depende do espectador para ser arte justamente porque necessita de uma fruição. No caso do trabalho de Adrià, ele desconstroi a receita justamente para nos fazer pensar a respeito.
Delícia a arte!
Amigaaaaaaaaaaaa
ResponderExcluirseu blog tá maravilhosooooooooooooo
muito interessanteeeeeeeeeee
saudades muitassssssssssssss
bjooooo
haha amei ...
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