Hoje estava navegando pela net à procura de imagens de Arcimboldo quando me deparei com um texto muito interessante sobre arte e comida. No Blog Investigação nº 11 dois acadêmicos, um da filosofia e outro da psicologia, focalizam seus interesses em arte e estética. De tão interessante, transcrevo aqui esse post:
É fato que temas culinários ocuparam a tradição artística ao longo da história. No século XVI encontramos os retratos de Arcimboldo feitos com frutas e verduras:
Mais recentemente, temos os trabalhos do fotógrafo brasileiro Vik Muniz que ficou conhecido por suas réplicas da Mona Lisa feitas com geléia e manteiga de amendoim. Também trabalhou com açúcar – no retrato das crianças filhas de cortadores de cana, chocolate – no retrato de Freud - e macarrão na sua reprodução da Medusa de Caravaggio:
Medusa Marinara - Vik Muniz - 1999
Temos também a instalação do africano naturalizado holandês Meschac Gaba, feita para a Bienal de São Paulo de 2006, chamada “Construct Sweetness, Living in Sweetness, As Sweet As Sugar”. Trata-se de uma maquete de 45m² da cidade de Recife toda feita de açúcar e com a inclusão de alguns monumentos famosos de outras partes do mundo. O trabalho versa sobre a geração de riqueza a partir da produção do açúcar e sobre o surgimento da cidade de Recife, temas que também remetem às origens africanas e holandesas do artista.
Mas não são as representações que me interessam e sim a comida em si. Ela pode ser arte? Até pouco tempo, dificilmente conseguiríamos uma resposta afirmativa a essa pergunta por maiores os esforços do chef. No entanto,em 2007, o catalão Ferran Adrià tornou-se o primeiro chef do mundo a ser convidado para uma exposição de arte. Roger Buergel, o curador da documenta 12, justifica a inclusão do chef dada “permeabilidade” da mostra. “Os cozinheiros sempre encararam a gastronomia como arte, como criação, como momento de sensibilidade. (…) Agora irá se abrir o debate sobre a relação entre cozinha e arte”, opina o cozinheiro. “A cozinha tem pontos de conexão com o mundo e a linguagem de arte”, concluiu.Essa conexão que sugere Adrià se dá no âmbito da gastronomia – no estudo das relações entre comida e cultura -, ou na culinária – na ‘arte’ da boa mesa? O primeiro estudo sistemático de gastronomia é recente, do século XIX, a Physiologie du goût (Fisiologia do Gosto) do francês Jean Anthelme Brillat-Savarin, é dele a frase: “Diga o que comes que te direi quem és!” A preocupação do autor o distancia dos milenares livros de receita – fragmentos de receitas já foram encontrados em cerâmicas de 4 mil anos na Mesopotâmia – para a relação entre as sensações e a comida. Mas não parece ser exclusivamente uma coisa ou outra que componha o trabalho de Adrià.
Muitas vezes visto como parte do movimento da culinária molecular – preocupada com os aspectos físicos e químicos dos alimentos e invenção de novos processos de cozimento – Adrià se define como desconstrutivista. Para entendermos o seu trabalho, vamos tomar um de seus pratos como exemplo. Vejamos o que Adrià faz de uma simples tortilla española. Primeiro, ele reduz a tradicional tortilla em seus três componentes básicos: ovos, batatas e cebola. Depois cozinha cada um separadamente. O produto final é composto de uma parte de espuma de batata, uma parte de purê de cebola e finalmente os ovos em forma de zabaione. O prato, que é minúsculo, é servido em uma taça de vinho em forma de coquetel. Com fina ironia, presente em todo seu trabalho, Adrià nomeia o prato de…tortilla española.
Sob o pretexto de que, assim como a música, “a cozinha não é uma disciplina museável” a sua participação na mostra se deu de forma original. Durante os cem dias da documenta, houve uma mesa reservada para duas pessoas – artistas, críticos de arte, aficionados da arte – que a mostra enviou diariamente ao El Bulli, restaurante do chef. Segundo Adrià a cozinha “é uma atividade multissensorial, comunicativa, que não se pode fazer para mais de 30, 40 ou 50 pessoas”, complementa: “No mundo da arte, a cozinha está representada pela necessidade de contextualização e ela só pode ser feita em seu próprio lugar.” E para aqueles que não foram escolhidos durante a mostra, a média de espera no restaurante é de um ano, o que segundo o chef também faz parte da ‘experiência’. Além disso, apesar das receitas estarem publicadas, as técnicas que Adrià utiliza são praticamente impossíveis de serem reproduzidas. Elas vão desde a utilização de materiais de difícil acesso como nitrogênio liquido – no seu Pirulio de Alcachofra, por exemplo - até técnicas originais como a transformação dos alimentos em espuma.
Quando interrogado sobre o estatuto de arte do seu trabalho Adrià é categórico: “Cada um decidirá, afinal, através de sua experiência, se a cozinha é arte ou não.” De fato as questões na sua cozinha parecem de duas ordens: da experiência sensorial e da individualidade. Me pergunto, alguém irá a um restaurante refletir sobre a vida e a morte, as grandes causas, além do simples fato ter uma experiência estética, quando muito bela, de preferência saborosa? O fato de sua cozinha fazer sentido dentro de um movimento (descontrutivismo) confere ao trabalho de Adrià o estatuto de arte? Ou seria tudo uma questão de (bom) gosto?
Para mim a arte está no questionamento. No que ela faz você pensar ou sentir. A arte contemporânea não é arte por si só. Ela depende do espectador para ser arte justamente porque necessita de uma fruição. No caso do trabalho de Adrià, ele desconstroi a receita justamente para nos fazer pensar a respeito.
Delícia a arte!
Amigaaaaaaaaaaaa
ResponderExcluirseu blog tá maravilhosooooooooooooo
muito interessanteeeeeeeeeee
saudades muitassssssssssssss
bjooooo
haha amei ...
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